Antes de mais nada, quero deixar claro que não sei porque ainda posto por aqui. Primeiro porque, além de você, Daphne, e de você, Leonardo Juliano, ninguém lê e, mesmo vocês que o fazem, não se dão ao trabalho de comentar...
Mas como não tenho nada pra fazer, lá vou eu postar novamente...
O texto abaixo foi feito quando completei a discografia básica do Cure. Trata-se, exceto por essa desnecessária parte em itálico e pela introdução, das informações com as quais preenchi o espaço destinado aos "coments" nos arquivos de mp3, de acordo com cada álbum. Pretendo também, em próximos posts, falar sobre os demais discos, incluindo um post exclusivo para a maravilha que é a caixa Join The Dots: B-Sides & Rarities 1978-2001.
Então... vamos lá! THE CURE - DISCOGRAFIA 1979-2004
Fico impressionado com a ignorância das pessoas. A cada dia que passa, mais me deparo com irritantes
"fãs" que conhecem apenas meia dúzias de músicas de seus
"artistas favoritos", e com pessoas que detestam uma determinada banda ou artista conhecendo ainda menos que os pseudo-fãs citados há poucos.
Há uma preocupação muito grande com a quantidade de bandas que se conhece, como se fosse alguma forma de
status, e isso, de alguma maneira, acaba resultando em pessoas que não se permitem ouvir a um determinado grupo com a devida atenção. Com apenas uma música, ou, quando muito, com apenas um álbum, já sabem perfeitamente bem se "adoram" ou se "detestam" aquilo.
Claro, quando a banda em questão tem mais de 25 anos de carreira, não pode ser tão simples assim. Ainda mais quando essa carreira compreende um disco com influências punks mais forte, alguns álbuns chamados "dark", um de synthpop, um psicodélico, e assim por diante. A banda? Cure, The Cure, do senhor Robert Smith, o
cara-do-cabelo-pra-cima-que-faz-sua-mãe-lembrar-do-Edward-Mãos-de-Tesoura-e-do-Corvo.
Com cada álbum sendo extremamente particular, faz-se necessário uma opinião específica sobre cada um deles, e é o que me proponho a fazer.
Nisto que chamo de "discografia básica" do The Cure, deixo de fora alguns discos como
Mixed Up,
Galore,
Entreat e
Paris, por razões simples:
Mixed Up é um disco de remix que, apesar de interessante, não traz nenhuma novidade impressindível.
Galore é, assim como
Staring at the Sea, uma coletânea de singles. O que a torna secundária é o fato de não contar com nenhuma canção que tenha ficado fora de álbuns oficiais (em "Staring" temos 3).
Entreat e
Paris são discos ao vivo. Enquanto o primeiro traz apenas músicas do disco
Disintegration, o segundo tem repertório mais amplo. Porém, nenhum deles é tão impressindível quanto
Concert - The Cure Live, que "encerra" uma fase na carreira da banda.
Sem mais, e passada a peneira, vamos às considerações sobre cada álbum:
1 -
Three Imaginary Boys (1979):
Primeiro trabalho da banda, e único, se comparado aos que viriam.
Ainda não havia aqui uma sonoridade
essencialmente Cure, digamos assim. Resquícios de punk, canções estranhas, Robert Smith garoto e inseguro, além de um curioso cover para Hendrix.
Alguns meses depois, já em 1980, seria lançado em solo norte-americano, sob o nome de
Boys Don't Cry, e com alterações no tracklist (saem algumas faixas consideradas "estranhas", entram singles).
2 -
Seventeen Seconds (1980):
Oficialmente o segundo álbum na carreira do grupo, traz uma novidade em relação ao primeiro disco: a adição de um tecladista.
A banda passa a buscar uma sonoridade própria a partir daqui, presando por climas mais soturnos e sombrios.
Também nesta época, Smith se envolve em um estranho projeto chamado
Cult Hero, lançando um compacto. As canções desse projeto, compostas por um carteiro amigo da banda, podem ser ouvidas na versão dupla, de luxo do álbum
Seventeen Seconds, lançada no ano passado.
3 -
Faith (1981):
Se 17 Seconds marca o começo de uma identidade própria, este álbum é a consagração da chamada fase "
dark" do grupo.
Contribuiu para isso o fato de que todos os integrantes haviam perdido ao menos um familiar nos últimos meses.
A
Record Mirror, uma publicação britânica, chegou a dizer que o álbum era
"oco, raso, pretensioso, sem importância e despido de qualquer coração ou alma reais; um estilo que deveria ter morrido com o Joy Division."4 -
Pornography (1982):
"Perto de Pornography, Ian Curtis foi um saco de risadas."
Essa declaração, feita por um crítico inglês, explica bem o clima do 4º álbum da banda, o mais soturno em sua discografia, escrito sobre forte influência de álcool e todo tipo de drogas.
Foi nesta época também que Robert Smith definiu seu visual peculiar, com maquiagem, roupas pretas e cabelo armado, e passou a ser perseguido, imitado e cultuado pelos mais bizarros e deprimidos fãs que poderia imaginar.
5 -
Japonese Whispers (1983):
Robert Smith, farto de fãs estilo
"criaturas-da-noite", pessoas deprimidas e neuróticas que se vestiam como ele e o perseguiam, copilou um punhado de singles mais "anti-Cure" possíveis e fez este disco. Um típico álbum para ser odiado pelos fãs de
Pornography e seus 2 antecessores.
É curioso ouvir Cure soando como Depeche Mode na quase synthpop "The Walk", ou sendo influenciado pelo musical
Aristocats, da Dysney, em "The Love Cats".
6 -
The Top (1984):
Após se libertar da
"fase dark", e após os singles divertidos, Robert Smith surpreende a todos com o disco mais psicodélico do Cure.
As letra de
The Top giram em torno das experiências com drogas, e de mágoas antigas, funcionando como desabafo.
Destaque para solos alucinados de sax e vocais gritados.
7 -
Concert - The Cure Live (1984):
Disco ao vivo sem grandes produções que foca o repertório em canções pesadas como "
Shake Dog Shake" e "
Primary", ignorando as mais leves como "
Let's Go To Bed".
Funciona como uma espécie de exorcismo, como se Bob Smith estivesse deixando para trás os seus fantasmas e encerrando uma fase na carreira do grupo.
8 -
The Head On The Door (1985):
Apesar de uma fria recepção pela parte da crítica,
The Head On The Door teve ótima aceitação popular, rendendo inclusive uma grande turnê mundial.
Traz a clássica "
In-Between Days".
9 -
Staring at the Sea (The Singles) (1985):
Coletânea de singles que inclui algumas canções que haviam ficado de fora dos álbuns oficiais, como a bela "
Charlotte Sometimes", uma das melhores da banda.
Pode também ser encontrado sob o nome de
Standing On The Beach.
10 -
Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me (1987):
Marca o momento em que a banda se torna mais famosa que Siouxsie and the Banshees e Echo And The Bunnymen, empatando em popularidade com os Smiths, de Morrisey e Johnny Marr.
Robert Smith radicaliza, e aparece de visual novo, quase sem maquiagem e de cabelos bem curtos.
Foi também nessa época que o grupo esteve no Brasil, assistindo a, segundo Bob Smith, "um dos momentos mais bizarros da carreira do Cure": pessoas pulando e cantando, com sorrisos nos rostos, a música
The Hanging Garden.
O disco, bem mais pop e radiofônico que seus antecessores (caminho que seria seguido a partir de então), traz "
Just Like Heaven", um dos melhores momentos da história do Cure.
11 -
Disintegration (1989):
O tracklist, com faixas como "
Plainsong", "
Pictures Of You", "
Lovesong", "
Lullaby", "
Fascination Street" e a própria "
Disintegration" não me deixam mentir: Robert Smith precisou de todos os altos e baixos, carregando a bandeira do The Cure durante dez anos, para lançar o melhor álbum de sua carreira desde sempre.
E não se fala mais nisso.
12 -
Wish (1992):
111 shows entre maio e dezembro, e The Cure elevado ao status de super-grupo.
Musicalmente, também um dos melhores trabalhos da banda, contendo a clássica atemporal "
Friday I'm in Love", além de "
High", "
A Letter to Elise" e "
Apart", uma das mais belas canções já feitas por Robert e sua turma.
13 -
Wild Mood Swings (1996):
Se The Cure precisou de 10 anos para fazer o melhor disco da carreira, precisou de 17 para fazer o pior, mais chato e quase insuportável.
Mesmo assim, vale a pena ouvir "
Mint Car", "
Round & Round & Round" e "
Numb" - que só não é perfeita por estar inserida num álbum tão ruim quanto este.
14 -
Bloodflowers (2000):
Álbum que remete, em partes, à beleza pop de
"Disintegration", apesar de inferior. Melancolia, além de muitos violões e algumas batidas eletrônicas, norteam todo o conteúdo do disco, que é bom, mas nos deixa com a sensação de que falta algo para emplacar quando comparado à
Disintegration e
Wish.
"
Out Of This World", "
Maybe Someday" e "
The Last Of Summer" merecem ser ouvidas com carinho e atenção.
15 -
The Cure (2004):
Álbuns de estréia é que costumam receber apenas o nome da banda (
ok, White Album, de você-sabe-quem, não conta). Esse é o espírito do disco: um novo começo, o começo para uma nova era de Cure.
Após o melancólico
Bloodflower, esse "retorno" soa bem superior ao que todos esperavam.
A produção ficou a cargo de Ross Robinson, considerado o "Papa do New Metal", por seu bom trabalho em extrair a melhor sonoridade possível de bandas lixos como Korn e Deftones, entre outras.
Guitarras ganharam destaque, baterias e baixo soaram perfeitamente bem, enquanto Robert Smith injetou fúria em suas canções, como gritos em "
Lost" e "
The End of The World" e engajamento político em "
Us or Them" (a primeira vez na carreira em que a banda se posicionou oficialmente sobre um assunto político, no caso a hipocrisia anti-terror norte americana).
As notícias dão conta de que o ano de 2006 trará o lançamento do 14º disco em estúdio do The Cure.
Por qual caminho Robert Smith levará a sua banda dessa vez é, como em toda véspera de lançamento do Cure, um mistério.
Sinceramente, podemos esperar qualquer coisa.
Eu? Eu espero o melhor.