Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

6.25.2005

=(

É sempre nos dias mais frios que eu acordo.
Pela janela eu vejo um mundo lá fora. Mundo mal, mundo que não quero para mim, mundo que não quero para meus filhos. Um mundo que não quero nem mesmo aos meus inimigos.
É estranho perceber que, mesmo com esse aperto no peito, essa sensação de agonia, meus olhos são incapazes de lacrimejar, e minha mente é incapaz de encontrar um motivo para isso. Na verdade, minha mente é incapaz de encontrar motivos para coisa alguma, seja me levantar e ir embora daqui, seja para cobrir meus pés, protegê-los do frio e dormir.

As músicas estão sempre mudando, e a impressão que tenho é de que essas pessoas estão mesmo por aqui, perto, e que cantam para me ver fechar os olhos.

A hera, no muro que protege meu quintal, agora está molhada com o sereno da meia hora anterior.
Lá fora, um cachorro late, outros respondem;
Os imbecis da minha rua vão de um lado para o outro, e nunca se perguntam porquê.
A tevê fica pior a cada instante;
O café perde o calor.

Olhe para mim agora, e me diga quem você vê. Ou o quê.
Aperte minha mão, e diga-me se ainda estou vivo.
Aproxime seus ouvidos e ouça meus pequenos murmúrios, tudo o que consigo dizer.
Será que ainda sou o mesmo que lhe contou cada uma das mentiras que você esperava ouvir de alguém? Será que ainda sou o mesmo que escreveu aquelas canções?

Eu ouço sua voz chamando meu nome.

6.02.2005

Trabalho por Trabalho

26 de Maio de 2005

- E aí, onde vai ser?
- Tanto faz. Pode ser aí dentro? É por causa da acústica, me ajuda na gravação.
- Tá bom. Vou tentar conseguir pra fazermos lá em cima. Tem uma acústica melhor.
- Tudo bem.

Saguão do teatro. Lá fora, uma enorme fila se formava na bilheteria. É claro, alguns curiosos não poderiam perder a chance de tentar descobrir quem seriam aqueles em meio à roda de famosos.

- Vocês dois terão que ficar aqui em baixo, certo?
- Mas eu...
- Olha, você faz a foto depois, pode ser?
Um rosto contrariado. O outro sem entender muita coisa. E aquela que fazia as honras da casa continuaria a cumprir seu papel:
- Jú, eu vou subir para dar uma entrevista pra ele, tudo bem? Depois conversamos.
Eu demorei um pouco para reconhecê-la. Mais ou menos o tempo em que conseguir parar de olhar pra cor dos seus olhos e dar uma avistada geral no seu rosto. Não sei ao certo seu comprimento, mas perto de mim, Juliana Lohmann pareceu ser digna do adjetivo "baixinha" (na verdade não só perto de mim. Ao lado de seu namorado esse adjetivo seria ainda mais adequado).
- Tudo bem, querida. Você estava ótima! A gente se fala!

- Podemos?
- Claro. Você na frente.

Estranha essa observação, mas escadas caracol sempre emprestam certo charme ao lugar onde estão. E enquanto eu subia, em círculos, jurei ter visto o Ari Fontoura passar pelo saguão.
Lá em cima, umas quatro ou cinco mesas de aproximadamente quarenta centímetros de diâmetro (que pareciam terem sido tiradas de algum livro do André Takeda), cada uma servida de um par de cadeiras finas de metal, estavam espalhadas pela pequena sala sem janelas.
Nos dirigimos até o extremo. Sim, eu estava nervoso pra cacete. Mais pelo maldito trabalho ("Trinta à quarenta perguntas... blábláblá... corpo doze, blá, vinte linhas de abertura...") do que por frente a um rosto de quem, sem saber, já havia me visto tomar café da tarde, e até mesmo, assistir desenhos infantis com a cara amassada de sono.
Por trás de toda educação, uma ponta de cansaço que ela teimava em esconder.

- Em comum, Simone e eu, apenas a fase das descobertas. Os mesmos medos e preocupações. Ela é problemática, eu acho a vida mais "cor-de-rosa".
Ela jogava o corpo para frente e para trás, como criança que se diverte ao contar suas histórias.
Experiências, curiosidades... eu ia pegando o ritmo.
- Aí me ligaram e disseram: "Aqui é da produção. Quer vir morar no Rio amanhã?", e eu disse "Claro! Como não?!".
Ela sorria. E enquanto sorria me parecia óbvio que seus dentes eram a parte mais bonita de seu corpo. Aliás, se vistas como partes isoladas, apenas seu sorriso e seus olhos eram belos. Mas o conjunto... a simpatia, a delicadeza com a qual ela guiava seus gestos... que harmonia!
E enquanto eu pensava, perdia o fio da conversa.
- Tudo bem. É que é muita coisa, você decorou muita coisa. – a atriz, no auge de seus quinze anos...
"Imagina se um dia eu for entrevistar a Arósio..." – Não pude impedir um sarcástico lampejo de ironia, que, por sorte, não passou de um pensamento.

Surfe: Aprendeu por causa da personagem, acabou virando um hobbie, hoje esquecido, devido à falta de tempo.

Ela gosta de cinema, mas normalmente não tem tempo.

"E se um dia ela for uma das maiores? Eu a conheci assim, ainda humilde, nos bastidores de um teatro! Eu sei seu telefone!" – uma estranha sensação de orgulho.
- (...) Para ela, o mundo tem muito açúcar. Ela diz: "Não! O mundo é uma merda! As pessoas são más e hipócritas!". Ela é inteligente, super verdadeira, meio grunge... e é hoje minha personagem preferida. Se chama Encrenca.
- Esse filme tem ligação com a música do Oswaldo?
- Tem sim. "Léo e Bia". O filme é do Oswaldo.
- E é esse que só tem sete pessoas no elenco?
Foi engraçado ver a expressão de surpresa naquele rosto...
- Mas você já está sabendo disso? – e mais sorrisos.

Eu já não fazia a menor idéia de quantas perguntas havia feito. A única coisa qual tinha certeza no momento era que, com tanto esforço e desprendimento, o reconhecimento é algo que deveria esperar para aquela menina.

Se alguém me escreve, se me assiste, se pensam em mim, não é justo não dar atenção.
E foi então que entendi porque havia sido tão fácil conseguir aquela entrevista que, há muito, não era mais que uma simples conversa. Gravada, mas uma simples conversa.

Quando enfim eu já sabia seus gostos, seus planos, sua história, e não sabia apenas quantas perguntas havia feito, encerrei.
Ela estava relendo Dam Brown;
Solteira, "graças à Deus";
Adorou apresentar o tal programa que eu adorava assistir;
Não escolheu certos caminhos. Apenas embarcou no que a vida lhe ofereceu;
Aquela poderia ser sua última semana no teatro (e, de fato, foi. Devido aos inumeros compromissos, na semana seguinte foi substituída por Juliana Lohmann);
O Kadu foi um pai de verdade;
O Henri, um irmão;
A Jú e o Hélder, ainda seus amigos;
Ela pensava em voar alto. Talvez mais alto que todas as outras à sua volta.

- Letícia Colin, obrigado pela ajuda.
- Que nada! Espero ter sido útil.
E foi. Ao todo, foram trinta e duas perguntas respondidas.

6.01.2005

em 9 de setembro de 2004, escrevi:

Naquele momento eu pude sentir sua presença. Um sutil toque, uma leve carícia, um gesto apaziguador...uma presença invisível.
Não. Eu não temi. Fechei os olhos sim, mas apenas para melhor sentir sua companhia...
Alí, mais uma vez, em meio à noite que antes me transmitia dor, insônia e angústia, adormeci. Você me viu em paz. Você me trouxe paz. Partiu.
Obrigado por ter aparecido quando eu muito precisava!
Ainda hoje, quando é noite, quando penso que preciso, fecho os meus olhos. Ali, no escuro da noite. espero, e espero, e espero... Mas, de certo, não preciso agora tanto quanto antes. Do contrário, eu sei, você já teria voltado...