Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

2.22.2006

Capote

Um pouco de cinema, só pra variar. Nada de música por hoje.


Nó-na-garganta. E não é força de expressão.
Capote, filme de Bennett Miller, traz Philip Seymour Hoffman no papel do jornalista Truman Capote, e retrata o processo de feitura de "A Sangue Frio", livro mais famoso do jornalista.

Escrito entre 1959 e 1964, "A Sangue Frio" conta a história do assassinato de quatro membros de uma família no interior do Kansas, culminado com a execução dos assassinos. A obra de não-ficção, em forma de romance, tornou-se um marco no que, por motivos óbvios, convencionou-se chamar de jornalismo literário.

O filme porém não se limita a apenas contar o que Capote já havia registrado em seu livro. Pelo contrário. Os pormenores dos assassinatos são o que menos importa. Ao longo dos 98 minutos, a preocupação de Bennett Miller foi focar o conflito ético que tanto atormentou o jornalista ao longo dos anos em que acompanhou o "Caso Clutter". O mesmo Truman Capote que contratou advogados para batalharem no adiamento da execução dos condenados, que se viu encantado por Perry Smith, um dos assassinos, e chegou a alimentá-lo com papinha para bebês numa ocasião em que Perry havia parado de comer, é o mesmo Capote, que, a partir do momento em que consegue todas as informações almejadas sobre a noite do assassinato, passa a desejar, o mais rápido possível, o desfecho da história e um final para o seu livro.

Philip Seymour Hoffman consegue ir além de interpretar (e perfeitamente bem, diga-se de passagem) o gestual e a forma de falar de Truman. A angústia de um homem que, ao mesmo tempo em que desejava ver os assassinos enforcados, também se via espelhado em Perry Smith (uma das frases mais belas do filme é sobre esse reconhecimento de Capote em Smith, e é algo como: "É como se nós tivessemos crescido numa mesma casa. Ele saiu pela porta dos fundos, e eu, pela porta da frente.") está estampada em seu rosto, especialmente na seqüência final da película. Não a toa Philip tem sido elogiado por toda a crítica, e é um forte concorrente ao Oscar.

O filme pode, em certos momentos, decepcionar aos que já leram "A Sangue Frio", e, por isso, acabam criando certas expectativas em torno do que acontece na seqüência seguinte. Com um pouco de abstração, isso não é necessariamente um problema, até porque, como já aconteceu em outros casos, o filme pode levar até ao livro muitas pessoas que sequer sabiam de sua existência. E nesse segundo caso, se não lerão nada, ou quase nada, sobre um escritor gordinho-careca-de-óculos-e-cheio-de-trejeitos, entenderão melhor toda a história do assassinato dos Clutters, e personagens tão interessantes quanto Perry Smith e Dick Hickock.

2.12.2006

Não me negue o blues!

Divido minha atenção entre as primeiras páginas de Alta Fidelidade (de você-sabe-quem), que voltei a reler, e o disco Heartattack and Vine, do Tom Waits.

Não consegui comprar o dvd pirata do filme sobre o Cash (choveu muito ontem, não cheguei a sair para comprá-lo), mas amanhã, depois da aula (primeiro dia de aula desse período, diga-se de passagem), se tiver paciência, vou à Uruguaiana e compro. Melhor ainda se encontrar o Capote (nada é impossível!). Já volto pra casa com dois filmes que quero ver, rever, e rever.

É engraçado quando nos reconhecemos em outras pessoas, ainda que essas pessoas sejam apenas personagens um livro de literatura-pop.
"Jamais confie em alguém com menos de 500 discos." – Rob Fleming é quem sabe o que diz.

A voz de velho bebum do Tomás Espera ocupa todo meu quarto nesse momento. "Going doooown, doooown, doooown, downtown...". E eu me pergunto porquê demorei tanto tempo pra conhecer alguma coisa do cara.
Minha mãe passa por aqui e, pra variar, faz cara de quem não gostou (na verdade, de tudo que eu ouço – e isso é muita coisa – só sei de duas músicas que a agradaram: Poor Butterfly, da Isobel Campbell, e uma versão de Summertime, com Charlie Parker).
Vez de Jersey Girl, de bateria mínima, violão básico e um simples arranjo de de cordas, que prova que canções bem nascidas não precisam de máscaras.
Minha irmã pergunta se estou com dor de cotovelo, e minha mãe diz que só ouço música de velho.
E é isso aí: eu tenho 21 anos e sou mais velho que minha mãe.
Toma clichê!

Chove pouco a cada 15 minutos, e o calor insuportável se foi, dando lugar a um clima até agradável.
Vou aproveitar para continuar minha leitura, ouvindo Waits (alguém me diz como não me emocionar com Ruby's Arm, seu triste piano, suas poucas cordas e quase inaudíveis metais, e essa voz de velho bêbado e miserável!) e bebendo café, ali fora, na varanda.

Varanda, cadeira de balanço, Tom Waits, frio sutil, café e Nick Horby.
O que mais eu posso querer de uma tarde de Domingo?

2.06.2006

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Depois dos Beatles, ninguém no mundo da (boa) música pop conseguiu copilar tantas pérolas por álbum quanto Jeff Tweedy e seu Wilco.

Só pra começar isso aqui com uma daquelas afirmações que servem para:
a) espantar o leitor-mala;
b) chamar o leitor-curioso;
Para quem se inclui na opção b, um balde de água fria: talvez eu esteja mentindo. Falei só pra provocar mesmo.

Tem alguém lendo isso aqui ainda?

Bem, eu sei que falar de Wilco não é nenhuma novidade. Mas e daí? Deixe os indies se preocupando com novidades enquanto eu falo sobre o que quiser.
Hoje mais cedo peguei o JW cd#47 - Wilco, guardado há um bom tempo, para ouvir. Algumas horas depois, alguns discos depois, e a pergunta:
- Cacete! Por que isso aqui não é tão conhecido quanto deveria?
Pergunta sem resposta, diga-se de passagem. Deixo isso pra lá, mas não sem fazer algumas observações, um tanto quanto desordenadas:

1 - Poucos conseguem ser melhores ao vivo do que são em estúdio, como o Wilco em Kicking Television (2005).
2 - Macca, Lennon e Young, eu amo vocês.
3 - Sunken Treasure, do Being There (1996), é uma das canções mais belas da década passada.
4 - YHF (2002) é bom, é muito bom mesmo. Mas, ao contrário do que dizem os fãs, não é o melhor disco da banda.
5 - Summer Teeth (1999) ocupa o cargo normalmente atribuído ao YHF.
6 - Macca, Lennon e Young, o Tweedy também ama vocês.
7 - Jim O’Rourke, freie o Tweedy, ou freie-se a si mesmo, e não deixe mais o Wilco gravar um disco de inéditas tão chato quanto A Ghost Is Born (2004).
8 - A Ghost Is Born é o disco chato mais legal que eu já ouvi.

No mundo dos hypes, quem dera se um terço dessas bandas que surgem todos os dias fossem minimamente tão interessantes quanto o Wilco.


Não sei porque escrevi tanto, afinal, ninguém vai ler esse post!