Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

9.04.2006

A Ilha - Dia #07: 31 de agosto de 2006

Tudo muito bom. O som das ondas batendo forte acabam substituindo o ventilador, que sempre deixo ligado, apontado para o nada, no conforto do meu quarto, só por causa do barulho mesmo. O chão dessa barraca, forrado com um colchonete fino, parece a coisa mais macia do mundo! Mesmo os roncos do índio-ex-funcionário-de-universidade-ex-paraquedista-vendedor-de-imóveis-dançarino-ex-pequedê-e-o-cacete-a-quatro não chegam a atrapalhar essa noite de sono. Também... bem alimentado, com os dentes escovados e de banho tomado, vou reclamar de quê?!

Levantamos às 5h30. O pescador que nos vai levar embora vem nos chamar daqui a uma hora.
Confiro minha mochila, escovo meus dentes e dou bom dia ao Mauro que vem logo dizendo que com esse vento todo é bem provável que ninguém nos leve a lugar nenhum e aí eu fico puto outra vez, porque (ok!), aqui isso aqui é bonito, isso aqui é legal, o povo aqui é simpático, mas – cacete! – eu TENHO que ir embora! Eu passei sei lá quanto tempo no mato, eu to com saudades da minha menina, eu quero lasanha, quero chocolate, quero Coca Cola, quero o sinal do meu celular, quero ver meus emails... quero minha vida de merdinha dependente da tecnologia, da eletricidade, da publicidade e do dinheiro de volta, e não estava lá muito afim de ter que andar por duas horas até chegar em Abraão para pegar a barca. Mas – fazer o quê? – se essa é a única opção, pois que seja! E pouco depois das 7, com as devidas despedidas (eu prometo que ainda volto aqui, só para aproveitar o lugar, como alguém normal, e não como um demente querendo chegar ao topo de uma montanha), tomamos nosso caminho.

William recebe um telefonema do dono do tripé que usamos para nos auxiliar nas filmagens dessa “expedição”. Parece nervoso. O cara, um argentino naturalizado brasileiro, publicitário influente, saiu de São Paulo rumo à Mangaratiba atrás do amigo, depois de Ter tentado falar com ele ao telefone sei lá quantas vezes. Parece também que o argentino acionou TODA a família de William (família que, por acaso, moram em Goiás, beeem longe do índio), e militares e o cacete. Não entendo a razão (o índio diz que foi para evitar que Martin – um bom nome para um argentino, não acha? – insistisse para vir conosco e acabasse atrapalhando a viagem), William havia dito que escalaria o Pico das Agulhas Negras, em Resende. Então, depois de tentar – e não conseguir – falar com o amigo pelo celular, Martin perdeu a cabeça achando que perdera um amigo e um tripé e, ligando pra cá e pra lá, acabou descobrindo a verdade.
Existe a possibilidade de que esse alarde todo não passe de blefe. Mas, como saber?
*******


Chegamos em Abraão e vamos logo comprar nossa passagem para a barca que sai ás 10, precisamente daqui à 35 minutos.
No meio tempo em que “Comandos em Ação” Kronemberg vai comprar algumas lembranças, William recebe mais um telefonema de Martin, que diz ter acabado de chegar na Ilha. Para nossa surpresa, realmente a barca está atracando nesse momento.
Esperamos um pouco e entramos, e vamos para a frente, para filmar a saída e um trecho da viagem. Faltam 5 minutos para partimos, e tudo indica que o argentino é mesmo muito bom de blefe, e estamos quase respirando aliviados, e o índio já tem quase certeza que escapou de levar uma lição de moral quando... “Puta merda! É ele ali embaixo!”.

- Cara... sobe, vem aqui pra frente...
(...)
- Na barca, cara... na barca...
(...)
- Não precisava disso, cara! Não precisava!
(...)
- Tá bem... sobe aqui.

Alan está numa ponta com o tripé e a filmadora. Eu estou agachado, com a cabeça entre os joelhos. William, deitado á minha esquerda, espera pelo amigo que vem, e, num nem-castelhano-nem-português – algo do tipo “Tevez nervoso” – dá suas broncas no índio:
- Má ondéquetutava?
- Eu falei, cara! Estava escalando, filmando o documentário!
- Má perguê nom me falô que vinha pá cá?
- Porque eu te conheço! Sabia que ia querer vir com a gente! Ia ser perigoso pra você e ainda poderia atrapalhar nosso trabalho!
- Má você é maluco! – surpreendentemente intelegível.
- Desculpa, cara!
- Descuipa? Descuipa! Você sabia que liguê pá tua famílha?
- É, minha mãe me ligou...
E assim prossegue a lavação, que fica mais engraçada quando Martin chama um dos funcionários da barca e diz que pagaria R$10000,00 para quem o levasse até o pico.
Mas o cara, apesar de chato, até que é legal. Sai e volta com uma lata de cerveja para cada um, e isso só não é melhor porque a cerveja não é Brahma, mas... de graça, né? Vai de Skol mesmo!
*******


A coisa que parece plataforma... o litoral de Angra... sim! Nós estávamos alto o suficiente para ver isso daqui. E eu não consigo parar de me perguntar qual foi a grande graça dessa viagem toda. O que leva alguém a querer se embrenhar mato a dentro e montanha acima? Massagem no ego (“Poxa, olha onde eu cheguei!”)? Pois para mim, essa idéia de que eu tenho um pau maior do que a maioria dos mortais só por ter chegado onde a maioria dos mortais não iria simplesmente não funciona.
*******


Agora estou sozinho no trecho final dessa viagem. Olhando pela janela da van, vejo o mar, a ilha e – lá está ele! – o Pico da Pedra D’água. Eu subi aquela coisa e – quem se importa? – não sou mais homem do que qualquer um aqui.

Pouco antes de tomar meu rumo, um rumo diferente do argentino e dos ex-milicos (e, sinceramente, após essa semana, torço para que nossos rumos sejam sempre diferentes, eles com as coisas deles, eu com as minhas coisas), um motorista de táxi veio, do nada, nos dizendo que TAMBÉM “dava uma bola”. Como assim “TAMBÈM”?! Cacete! Como deve estar minha cara? Meus olhos? Minha barba? Se, de olhar para mim, um quarentão puxador de fumo sente-se seguro de que faço parte de sua turma, devo estar bem acabado!
Estou magro e pareço cansado, muito cansado. Não como direito há algum tempo;
Ele tem olheiras, olhos fundos, lábios rachados, pele queimada, barba queimada, cabelos... cabelos não tão nojentos quanto até ontem a tarde. Não fosse isso, com as sandalhas certas e vendendo durepox retorcido, poderia ser facilmente confundido com um daqueles malditos e inúteis hippies estilo Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – mas uso
Havaianas
, e não vendo coisa alguma.

Quase exatamente como imaginei que seria.

2 Comments:

  • At 3:56 PM, Anonymous Anônimo said…

    Foda cara, foda! =]
    Tbm gostei do fim...
    E chega ao fim as peripécias... de volta a vida normal [será? ou será q agora vc ficará mais feliz comendo chocolate e dormindo na cama queintinha? kkkkkkkkkkkkkkkk]
    Bjoka

     
  • At 7:32 PM, Blogger leonardo juliano said…

    uma coisa: SE FUDEU!

    p.s.: subir montanha e fazer rapel é legal pra caralho!!.. é eu sou retardado!! hahahahahah

     

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