Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

7.06.2006

Café & Anti-ácido

Onze e qualquer coisa de uma manhã de terça-feira.
Aquela hora, já estava sozinho. Ao acordar, lá pelas nove, já estava sozinho, sem ninguém por perto.
Estava em um daqueles dias em que não pôs a campainha no lugar (não queria ver ninguém), e também não ligou o celular, desligou o residencial (não queria ouvir ninguém).

Não fazia nada de importante (não fazia nada), mas não queria ser incomodado.
Não queria outros rostos que não fossem aqueles, nas fotografias, nas páginas que folheava sem prestar muita atenção. Não queria (ao menos não agora) outros sons que não fossem aqueles, pacientemente escolhidos, melodias conhecidas, direto dos fones para os ouvidos, sem escala (“We've been living life inside a bubble / We've been living life inside a bubble”).

- É tão difícil assim? – questionava em voz alta, sem saber o porquê da pergunta, sem saber o tipo de resposta gostaria de receber e sequer quem poderia responder.

Cortou um pedaço de pão, e, em um copo, pôs pouco mais de três dedos de um café, muito escuro e quase nada doce. Não mastigou, não saboreou. Uma dentada e dois goles, e já se podia dizer que tinha algo no estômago, que logo começaria a ferver – mas não se antes tomasse o único medicamento que jamais se permitia recusar: o bendito anti-ácido.

“O que eu queria mesmo era explodir. Fechar os olhos, prender a respiração, sentir meu corpo inflar, e inflar, e inflar... até que buuuum! E eu seria ar, eu seria vento. Eu estaria em todos os lugares, perto de todos, sem que ninguém jamais pudesse me sufocar outra vez. E não haveriam mais óculos, mais camisas de botão, jeans ou All Star. Não haveriam paredes, segredos, solidão.” – monologava em silêncio, parando somente para gritar aqueles versos a plenos pulmões...

- And the rain is falling and I believe, my time has come It reminds me of the pain, i might leave, leeeeave behind!

“Solidão. SO-LI-DÃO... será que as pessoas sabem mesmo o que isso quer dizer quando dizem se sentir só? Não tem nada, absolutamente, a ver com não ter ninguém ao seu lado. Para mim, é justamente o contrário disso... é ter todos ao redor, e, mesmo assim, se sentir mais isolado que aquele personagem do Tom Hanks em Naufrágo – isso antes dele inventar aquele amigo-bola, que até quebrou um galho depois.” – seus olhos fitando algum lugar entre a parede e o infinito, enquanto seus ouvidos ouviam, quase sem prestar atenção, as lamúria do velho de Manchester (“And there is no room to move / But the heart feels free / The heart feels free”).

Alguns passos pela casa vazia, foi até a sala, ligou a tevê, pôs no volume mais baixo. Trocou e trocou de canais.
“Malditos! Eles pensam que sabem de algo, mas não sabem de nada. De NADA! Eu também não sei, eu não sei, eu NÃO sei! E quem sabe? Quem é que sabe? Alguém sabe?”

Ouviu o despertador tocar, retirou os fones e largou seu ipod sobre o sofá.
Foi ao banheiro, escovou os dentes, verificou os botões da camisa, penteou os cabelos, ajeitou a sobrancelha.
Já era hora de buscar os filhos na escola.

Apesar das férias, aquele seria um dia longo.

5 Comments:

  • At 12:37 PM, Anonymous Anônimo said…

    Eu sei exatamente, vc já leu eu escrever sobre algo parecido, não sei se vc lembra... Não lmbro agora direito mas era algo como "estar sozinho mesmo em compania de quem mais se ama..."
    E eu gostei do texto, pra variar um pouco...
    =]
    Bjos!

     
  • At 12:53 PM, Blogger leonardo juliano said…

    você vai ter filhos mesmo?

     
  • At 2:41 PM, Blogger jwagner said…

    Nina, eu vivo escrevendo coisas do tipo, e Leo, até quero ser pai sim,mas não agora.
    e o personagem desse texto não sou eu, oras!

     
  • At 3:42 PM, Anonymous Anônimo said…

    Eu não quis dizer q vc me copiou, mas q vc sabe q agnt se identifica nesse sentimento!!
    E é vc sim, tirando a parte dos filhos!

     
  • At 8:29 PM, Anonymous Anônimo said…

    jw em: "pedaços do cotidiano" parte num-sei-quantas...rs

     

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