Quase
Fazia tempo que não me lembrava disso com clareza.
Eu estava deitado numa maca, dentro de uma ambulância, a caminho do pronto socorro mais próximo, algo em torno de 3 quilômetros de minha casa. Eu tinha quatro anos, e naquela época, as coisas eram mais difíceis aqui em casa do que jamais voltariam a ser.
Laringite alérgica é o nome. Não tem cura, tem controle. Aquela devia ser a primeira, ou uma das primeiras, pelo menos naquela proporção. Haveriam outras mais tarde, e até cheguei a voltar à hospitais por conta disso, mas apenas para tratamento, não mais para uma emergência.
Meu pai, em pé à minha frente, dizia coisas como “Wagner, eu to aqui, fica calmo!”, as quais eu respondia com mais choro, mais solavancos, mais falta de ar.
Se você não sabe, é mais ou menos assim: sua laringe, por causa de alguma coisa a qual você é alérgico, incha, e incha, e incha, até não poder mais inchar, até não sobrar espaço algum para que o ar consiga passar, por mais que você se esperneie, por mais que jogue a cabeça para cima e tente puxá-lo com toda a força que você já não tem, pois está com seus pulmões vazios.
Claro, esse é o ápice da crise, e quando você tem quatro, ou cinco (várias vezes ao longos dos cinco), seis, oito e nove (no mínimo duas vezes ao longo dos nove), não há pedido de pai, não há choro de mãe, não há pano embebido em álcool enrolado no pescoço ou ar da madrugada que lhe faça sentir menos desesperado enquanto a merda da laringe simplesmente não desincha, deixando você respirar, sentado no chão, quase desmaiando (ou desmaiando) depois de ter feito tanto esforço.
Minha mãe tinha estado doente havia menos de um ano. Tuberculose. Quase morreu. Eu mesmo, para não acabar doente nessa mesma época, viajei para Petrópolis, ficando lá até minha mãe recuperar a saúde (Aliás, outra lembrança antiga que eu tenho: eu na varanda olhando pela janela, minha mãe deitada na cama, ela pergunta minha idade, eu sinalizo “3” com os dedos, ela me corrige, dizendo que a partir daquele dia eu tinha que levantar um dedo a mais. Era meu aniversário. Ela ainda não estava curada, mas me deixaram vê-la – e vice-versa – por se tratar do meu aniversário. Não demorou porém para que ela melhorasse depois disso, e não demorou, creio eu, para que essa primeira crise de laringite da qual tenho recordação me proporciona-se minha também primeira experiência pessoal de quase-morte), e veja a ironia: eu estava de volta, eu estava em casa, e agora era minha vez de sentir como era estar perto, perto demais, de uma morte lenta e dolorosa.
Não sei porque lembrei de tudo isso de forma tão clara. Como disse antes, não tenho a crise em si há bons 12, 13 anos (apesar de, vez por outra, como essa semana, ser acometido das coisas mais “sutis” do problema, como a tose seca, a febre, a dor de cabeça, quase como uma gripe, mas sem pulmão carregado e tudo mais).
Vai ver é só uma lembrança distante. A lembrança da primeira vez que eu realmente tive medo de algo.
Eu estava deitado numa maca, dentro de uma ambulância, a caminho do pronto socorro mais próximo, algo em torno de 3 quilômetros de minha casa. Eu tinha quatro anos, e naquela época, as coisas eram mais difíceis aqui em casa do que jamais voltariam a ser.
Laringite alérgica é o nome. Não tem cura, tem controle. Aquela devia ser a primeira, ou uma das primeiras, pelo menos naquela proporção. Haveriam outras mais tarde, e até cheguei a voltar à hospitais por conta disso, mas apenas para tratamento, não mais para uma emergência.
Meu pai, em pé à minha frente, dizia coisas como “Wagner, eu to aqui, fica calmo!”, as quais eu respondia com mais choro, mais solavancos, mais falta de ar.
Se você não sabe, é mais ou menos assim: sua laringe, por causa de alguma coisa a qual você é alérgico, incha, e incha, e incha, até não poder mais inchar, até não sobrar espaço algum para que o ar consiga passar, por mais que você se esperneie, por mais que jogue a cabeça para cima e tente puxá-lo com toda a força que você já não tem, pois está com seus pulmões vazios.
Claro, esse é o ápice da crise, e quando você tem quatro, ou cinco (várias vezes ao longos dos cinco), seis, oito e nove (no mínimo duas vezes ao longo dos nove), não há pedido de pai, não há choro de mãe, não há pano embebido em álcool enrolado no pescoço ou ar da madrugada que lhe faça sentir menos desesperado enquanto a merda da laringe simplesmente não desincha, deixando você respirar, sentado no chão, quase desmaiando (ou desmaiando) depois de ter feito tanto esforço.
Minha mãe tinha estado doente havia menos de um ano. Tuberculose. Quase morreu. Eu mesmo, para não acabar doente nessa mesma época, viajei para Petrópolis, ficando lá até minha mãe recuperar a saúde (Aliás, outra lembrança antiga que eu tenho: eu na varanda olhando pela janela, minha mãe deitada na cama, ela pergunta minha idade, eu sinalizo “3” com os dedos, ela me corrige, dizendo que a partir daquele dia eu tinha que levantar um dedo a mais. Era meu aniversário. Ela ainda não estava curada, mas me deixaram vê-la – e vice-versa – por se tratar do meu aniversário. Não demorou porém para que ela melhorasse depois disso, e não demorou, creio eu, para que essa primeira crise de laringite da qual tenho recordação me proporciona-se minha também primeira experiência pessoal de quase-morte), e veja a ironia: eu estava de volta, eu estava em casa, e agora era minha vez de sentir como era estar perto, perto demais, de uma morte lenta e dolorosa.
Não sei porque lembrei de tudo isso de forma tão clara. Como disse antes, não tenho a crise em si há bons 12, 13 anos (apesar de, vez por outra, como essa semana, ser acometido das coisas mais “sutis” do problema, como a tose seca, a febre, a dor de cabeça, quase como uma gripe, mas sem pulmão carregado e tudo mais).
Vai ver é só uma lembrança distante. A lembrança da primeira vez que eu realmente tive medo de algo.
4 Comments:
At 1:05 PM, john braun said…
cara... eu fotografei na minha cabeça todas as cenas agora... foda.
At 11:40 AM, Anônimo said…
Blog legal, texto legal, estilo legal. Além do mais, consegue o que não consigo: postar todos os dias (ou pelo menos com uma frequencia considerável)
Vá em frente!
Ah! E o blog do Soares Silva realmente é bom, embora podemos não concordar com muito do q ele escreve.
At 6:04 PM, Mônica said…
eu vivi aqui tudo q vc escreveu..punk!
At 10:32 AM, writer said…
D+ teu blog, tuas vivencias e tua disposição pra escrever isso tudo de forma tão pessoal. Gostei!
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