Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

4.15.2006

O Lisérgico Dr. Gonzo


"Acima de tudo isso, ele é um mentiroso, um talento desperdiçado, um artista em fluxo contínuo e um mascate vendendo quilos de sua própria carne."

Lester Bangs

 semelhanças são coinscidência

O texto acima, de autoria de um famoso jornalista musical norte-americano, diz respeito a Lou Reed, músico que se tornou conhecido por seu posto de guitarrista do grupo Velvet Underground, no final da década de 1960. Entretanto, não seria nem um pouco equivocado usá-la para definir Hunter Stockton Thompson, o mais insano e ácido – em todos os sentidos – jornalista da história, nascido em 18 de julho de 1937, em Kentucky, interior dos Estados Unidos.

O chamado "New Journalism", do qual fazia parte nomes como Truman Capote, Tom Wolfe (este, por sua vez, o responsável pela designação "new journalism") e Gay Talese, entre outros, visava por si só romper com as barreiras impostas pelo jornalismo "comum", frio, dos lides objetivos, da "Pirâmide Invertida" e dos textos pasteurizados, surgido em 1861 no The New York Times. Hunter Thompson, no entanto, ia além: não bastava ser subversivo, era preciso ser parte da notícia, ser parcial, ser marginal. E ele assim o foi.
Seus textos – uma complexa e perigosa mistura de new journalism, literatura beat, sangue, suor, álcool e todo tipo de substâncias psicotrópicas que se possa imaginar –, radicalizavam de tal forma que acabaram recebendo o rótulo de "jornalismo gonzo", gênero do qual Thompson foi criador, maior representante e provavelmente o último – por mais que jornalistas, jovens ou não, em todas as partes do mundo, possam tentar o tempo inteiro reproduzir seus passos.

Sobre a origem do termo gonzo (originado da gíria franco-canadense gonzeaux, que significaria algo como "caminho iluminado", mas que acabou se tornando sinônimo para nonsense), conta-se que o jornalista Bill Cardoso, amigo de Hunter, ao ler o texto chamado "O Kentucky Derby é Decadente e Degenerado" (que, a princípio, deveria ser um artigo sobre uma famosa corrida de cavalos de Louisville, terra natal de Thompson, mas que rendeu porém uma forte crítica à população local e seu modo de vida, no qual o nome do vencedor do evento não é mencionado em um momento sequer), escrito para o Scalan’s Monthly, em junho de 1970, exclamou: "Eu não sei que porra você está fazendo, mas você mudou tudo. É totalmente gonzo". O novo adjetivo foi adotado por Hunter Thompson, de forma que ele mesmo passou a denominar seu estilo como jornalismo gonzo.

Aos 18 anos, o jovem Hunter Thompson foi condenado a sessenta dias de prisão devido a um assalto, mas, por sugestão do juiz, aceitou se alistar na Força Aérea como pena alternativa, e foi na base de Eglin que começou a escrever para o jornal Command Courrier. Mais tarde, além de publicar 10 livros e diversas matérias como freelancer, Hunter foi também dos principais colaboradores das revistas Playboy e Rolling Stone, e do canal ESPN.
Entre seus livros, dos quais apenas 4 estão disponíveis em catálogo no Brasil atualmente, podemos destacar Hell’s Angels (o livro que popularizou o jornalista. A idéia, a princípio, era que Hunter escrevesse um artigo sobre a famosa gangue de motociclistas para a revista Nation, em 1965. Thompson, porém, acompanhou o grupo durante um período de 18 meses, realizando filmagens e entrevistas, viajando com o bando e praticamente se tornando um deles, exceto pelo fato de, ao final desse período, ter levado uma surra que lhe rendeu algumas costelas quebradas, de alguns motociclistas que estavam cansados de tanta exposição perante a mídia) e A Grande Caçada aos Tubarões (copilação de matérias escritas para diversos veículos impressos, entre o começo dos anos de 1960 – incluindo textos sobre o Brasil, escritos no período em que o jornalista morou aqui, mais precisamente no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro, entre 1962 e 1963 – e o final da década de 1970). Os outros 2 são a ficção beat Rum – Diário de um Jornalista Bêbado (apesar dos personagens serem ainda jornalistas descontrolados, este livro é cuidadosamente estruturado, ao contrário dos textos freestyle do gonzo jornalismo) e Screwjack (pequena coletânea de textos soltos, que inclui o divertidíssimo M.E.S.C.A.L.I.T.O. (sic), no qual Thompson narra sua primeira experiência com mescalina, em uma narrativa repleta de detalhes). "Fear and Loathing in Las Vegas", que chegou a sair no Brasil em 1984, pela editora Brasiliense, sob o péssimo título de Las Vegas na Cabeça (atualmente fora de catálogo), chegou aos cinemas em 1998 como "Medo e Delírio", sendo o personagem de Hunter Thompson interpretado por Johnny Depp, amigo pessoal do jornalista (Depp, aliás, voltará a interpretar Thompson na versão cinematográfica de The Rum Diary, que pode começar a ser rodado ainda em 2006) .

Tão extrema quanto foi sua vida e sua escrita, foi também a sua morte. Em 20 de fevereiro de 2005, aos 67 anos, Hunter Stockton Thompson, ou "Dr. Gonzo", como costumava ser chamado, suicidou-se com um tiro na cabeça. Falando com sua esposa ao telefone, suas últimas palavras antes de apoiar o aparelho sobre o mármore da cozinha, carregar o revólver e puxar o gatilho foram: "Gonzo has left the building".
Seis meses após o suicídio, suas cinzas foram lançadas ao ar por um canhão instalado sobre um monumento em forma de punho gigante – símbolo do Dr. Gonzo –, de 45 metros de altura por 2,4 de largura, financiado por Johnny Depp, numa cerimônia presenciada, entre outros, pelos atores Sean Penn e Jack Nicholson, também amigos de Thompson. "Fanático por fogos de artifício, explosões e qualquer coisa que fizesse 'bang'", conforme foi definido por Troy Hooper, Hunter só poderia mesmo ter um final como esse.
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Ontem. Count Basie Orchestra soando alto em plena madrugada. Livros, livros pra todos os lados, caderno, folhas arrancadas, caneta, rabiscos e óculos, e água, e sono, e suor. Não agüentando o tédio, resolvi fazer algo de útil: o texto sobre Hunter Thompson que terei de apresentar, sei lá quando - se fim desse mês ou começo do próximo - na faculdade, num seminário que vale também sei lá quantos por cento da nota da prova.
É provável que eu ainda mude algumas coisas. Em todo caso, não deve sair muito diferente do que você acabou de ler.

2 Comments:

  • At 2:09 PM, Anonymous Anônimo said…

    Cara

    Vi seu post lá na comunidade do Gonzo. vale a pena vc ler a monografia do Cardoso (André Czarnobai), caso não tenha lido.

    Quando vc vaiu apresentar seu trabalho?

     
  • At 2:34 PM, Anonymous Anônimo said…

    Gonzo legal era o dos Muppets. E este foi mais um comentário nada a ver by rodrigo borges.

     

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