Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

8.13.2005

1991

Passaram-se pouco mais de dois anos após a última e triste vez que nos encontramos. Quase nenhuma informação tive sobre eles nesse tempo e, as que tive, eram, no mínimo, estranhas. Eduardo, passado alguns meses, juntou os trapos e foi morar com uma garota de dezessete anos, mas a aventura não chegou sequer a sete meses. Com o término, ele logo voltou para casa de seus pais. Já André, não se sabe por que razão, não deu as caras em lugar algum até, pelo menos, seis meses atrás. Quando finalmente apareceu (lembrando que, durante esses últimos meses, suas aparições continuam sendo raras), estava pálido ao extremo, magro ao exagero, acuado como um animal e ostentando uma barba quase cubista, non sense total.

O último recanto boêmio. Garrafas de conhaque em prateleiras altas, tira-gostos em conserva, bandeira do fluminense na parte atrás do balcão, bem ao lado da imagem de São Jorge. Eu não gostava daquele bar (era escuro, não cheirava bem, era mal localizado), eu não gostava daquela cidade (era escura, não cheirava bem, era mal localizada). Mas deve de ser lá mesmo esse reencontro. André sequer cogitou a possibilidade de pensarmos em algum outro local.

Como pode, em tão pouco tempo, nos tornarmos pessoas tão diferentes? Há apenas cinco anos éramos como irmãos, sempre juntos, nas melhores e piores horas. Nos churrascos de fim de semana, ou nas peladas secundarístas, éramos sempre nós. Mas agora não éramos nada mais que três animais em três jaulas diferentes e distantes.
Eu consegui um estágio ainda no início do curso de Administração, fui efetivado, e me formei, e fui promovido, e já não tinha tanta paciência para conversas como a de Eduardo. Ele agora contava como montou uma academia (com o dinheiro de seus pais, é claro!), como foi divertido seduzir a garota com quem ele acabou morando durante um tempo, fodendo todo dia, até quando ela falou em ter um filho, e ele terminou tudo. Eduardo era o típico brasileiro classe média de 24 anos: um babaca marombeiro, fodedor de garotinhas, baladeiro de plantão. Por sorte, enquanto suas palavras transbordavam como a espuma do chope, eu me ocupava ao observar André.
Ele esvaziava o copo numa goladas rápidas, como quem quisesse sair dali o quanto antes (e sem se preocupar, ao contrário de mim, em esconder isso) e, de cabeça baixa, parecia estar achando tudo aquilo ali um saco. Rodopiava o copo sobre a mesa, não se preocupava em falar mais do que "sim", e "não" e "pois é". Alguma coisa séria havia acontecido com ele, mas, quando quis tocar no assunto, ele nos pediu licença, nos pediu desculpas, deixou uma nota sobre a mesa para pagar sua parte e foi embora - passos largos, mão no bolso e cabeça baixa.
Eduardo o olhou de lado, esperou com que André tomasse uma certa distância, e se dirigiu a mim com a cara mais absurdamente desprezível que eu já puder ver:
- Lembra a última vez que nos encontramos?
- Lembro, claro. No velório da sua...
- É - interrompendo -, nesse dia mesmo.
- O que tem?
- Foi depois desse dia que o André se trancou no quarto. Nem mesmo os pais dele o viam direito.
- Nossa! Que estranho! Pensei que ele não a conhecesse.
- E não conhecia, mas lembra como ele ficou quando a viu?
- É, lembro sim. Ele quase desmaiou.
- Cara, acho que ele gostava dela.
- Hnn... faz sentido.
- Se só de a conhecer de vista ele ficou pirado desse jeito, imagina como ele teria ficado se já tivesse deitado com ela...
- Eduardo, esse comentário foi ridículo e desnecessário.
- Desnecessário? É sério, cara! Aquela menina fodia como ninguém! Era uma verdadeira putinha na cama!

Foi então que me levantei, abri a carteira e deixei cair algumas notas sobre a mesa.

- Eduardo, estou saindo, cara! Toma esse dinheiro aqui. É mais que o suficiente para pagar a conta e ainda comprar algum band-aid e algum remédio para dor.
- Remédio pra dor?

E então veio a porrada bem dada na cara, como não fazia mais desde quando nós três (André, Eduardo e eu) nos metemos em uma confusão com uma turma de um colégio rival, que ficava em frente ao nosso. A diferença foi apenas o alvo. Eduardo.


Não consegui alcançar André. De longe, o vi abrir o portão, entrar com pressa, sem nem olhar para trás.

E desde então nunca mais nos encontramos.


2 Comments:

  • At 6:27 PM, Anonymous Anônimo said…

    foda,pra variar..
    jw..vc eh o cara..hehe
    beijao

     
  • At 4:11 PM, Anonymous Anônimo said…

    po....repetindo o q eu sempre digo..mais pod ter certeza q c signifikdos diferentes
    po...cada dia vc faz textos melhooooresss...huuhuhuh...
    mt bons mesmo...tirei o atraso...li todos

    amo vc menino!

    póstei akele la nu meu flog..O que eu nem sei mais....soh um pedaço dle...dps vai la..

    bjon amor..

     

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