Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

4.25.2005

Respostas para perguntas de entrelinhas

Ele sabia que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. Ele temia, mas sabia que, mesmo tanto tempo depois, mesmo com o passar dos anos, mesmo com os cabelos diferentes, mesmo que agora ele tivesse barba, mesmo com os poucos quilos à mais que tanto relutavam em aparecer, ele sabia que cedo ou tarde isso aconteceria. Novamente, um dia, eles estariam frente a frente.
Então chegou o dia. Suas pernas bambearam, mas disfarçou, seus olhos se desviaram, mas já era tarde demais.
E naquela hora não houve mais como fugir.

- Oi.
- Olá. Tudo bem?
- Acho que sim. E com você?
- Bem também, eu acho. Sabe, andei lendo uns livros seus durante esse tempo em que você esteve longe, e acho que...
Ela segura. Não é capaz de dizer. Mas também não é preciso. Ele sabe exatamente onde ela quer chegar, e, apesar de tudo que aprendeu ao longo de todo esse tempo, apesar de acreditar ter se tornado mais forte que antes, estremece.
- Você acha? Bem, a verdade é que... - ele também não é forte o bastante para isso, mas tenta continuar: - a verdade é que são apenas palavras. É tudo muito bonito, eu sei, mas são apenas palavras.
- Desculpe, não sei o que dizer.
- Não. Eu é que lhe devo desculpas. Sempre fui eu. Não eram indiretas, não era pra você ter lido. - Eram sentimentos, os seus sentimentos. Não posso exigir que você não os tenha. Você deve ter, penso eu, escrito o que sentia.
- Sempre! É sempre o que eu sinto. Em metáforas, em outros personagens, em outras histórias, em outros eles e outras elas. A grande verdade é que sempre sou eu mesmo, e muitos que lêem não conseguem compreender.

Sempre foi mais que o medo de ficar sozinho (as outras bocas, os outros ombros, outros perfumes, nada foi capaz de transmitir a sensação de que havia alguém por perto, mas ele sempre conviveu bem com isso). Sempre foi mais que o medo da morte (nas suas noites de insônia, azia, dores de cabeça, era a morte à quem chamava, sem medo algum...).
Era o medo de ser esquecido. O medo de que George Orwell estivesse certo quando, no terrível 1984, afirmou que o passado é algo possível de ser alterado. Tremia só de pensar na possibilidade de alguém lhe segurar pelos ombros, e gritar em seus ouvidos "Esqueça! Isso nunca existiu! Isso não foi verdade!". No entanto, naquele momento, todo seu desespero, às vezes escondido em belas e enigmáticas frases, que muitos aplaudiam sem saber porquê, passou. Passou quando, enfim, ouviu aquilo que tanto desejava ouvir e que, por acreditar que jamais ouviria, o fez fugir, se esconder, se exilar.
- Foram momentos maravilhosos que jamais hei de esquecer. – Ela disse, seguindo-se de um profundo silêncio, e um sorriso no canto dos lábios dele, que, de tão discreto, talvez nem ela tenha percebido.

Já não importa se o presente não é como ele quis que fosse.
Ele a beija no rosto, sem qualquer mágoa, como duvidava que pudesse tornar a fazer.

E vai embora.

Um amigo tinha toda razão quando, certa vez, lhe disse: “Sim, eu gosto dos seus textos. Mas sobre sua paranóia com as lembranças... eu não acho que hajam coisas que devam ser esquecidas. Cada uma delas só acrescentam, só nos fazem crescer.”

4 Comments:

  • At 11:40 AM, Anonymous Anônimo said…

    =]
    certamente nada deve ser esqecido...sempre temos lembranças boas...ate mesmo quando elas se tornam torturaveis depois....eh mt bom guardar lembranças..eu tb sei o qnt doi umas e outras..qualquer dia eu t conto..

    =*****

    fexado..eu desenho o treco da banda...ou plo menus tento

     
  • At 4:58 PM, Anonymous Anônimo said…

    Big Brother is watching "us"

    Mas não desista, nem se esqueça!

    Abraço

     
  • At 10:14 PM, Anonymous Anônimo said…

    é o "brilho eterno de uma mente sem lembranças". lindo o texto. Gosto muito do seu blog. =)

     
  • At 4:37 PM, Anonymous Anônimo said…

    Ah!!!
    AGora, sim eu sei quem é vc! :)

    Então, o seu endereço antigo do fotolog.net tem alguma relação com o Jeff buckley ou é impressão, só?

    beijos

    Obs.: pode deixar que sempre estarei por aqui, sim. :)

     

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