Até que eu me divirto!

mas que deixei de acreditar, isso eu deixei!

12.30.2005

O Terno Branco

Luiza, por favor, avise para sua mãe que ainda essa semana eu passo aí pra devolver o CD do Moreira. E peço desculpas pela demora.
Cá entre nós, confesso: não ria tanto com alguma música desde quando o Dinho jogou o avião contra aquela serra lá! A diferença é que naquela época eu era pouco mais que criança, e acharia graça de qualquer piada, por mais sem graça que fosse.

Já até havia esquecido de onde estava a capinha - é que o disco não saiu do som por pelo menos duas semanas. Procurando o Pixinga, pra emprestar pro Átila, foi que cruzei com a capa.
"Porra! O velhote de terno branco, posando à frente dos Arcos da Lapa! Tenho que entregar o CD da Vera!"
Diz pra sua mãe que, não fosse eu ter lhe visto pela Lapa na última vez, e ter começado o dia - ou terminado a noite, como queira - com um copo de chope em mãos, não haveria devolução.
Acho que isso reforça a minha tese de que, goles a mais, algumas vezes, não são tão maus assim, ainda que o Moreira nunca tenha tomado um porre em toda sua vida, segundo o que dizia.

Moreira devia ser o cara! Devia ser foda mesmo!
Não bebia e nem fumava. Mas mesmo assim, olho pra esse velho com cara de safado e não o consigo imaginar cumprindo a promessa de telefonar, feito um bobão como eu...

É, Luiza, a gente vai ficando velho... e daquele fã de Towshend, tudo o que resta é a vontade de usar um terno. Mas hoje em dia, branco, como o do Moreira.
Acho que até a possibilidade de quebrar guitarras me parece boba, se comparada a quebrar o guarda-roupas, bater no dono do morro, dar uma dúzia de tiros e ir embora com a viúva.
Tá bom, tá bom... eu sei. Pete não é Tommy e Moreira não é Kid, mas enfim, você entendeu.

Acho que vou rir um pouco mais ao som do sujeito, enquanto não entrego o CD. E assim que ‘u puder, descubro por aí que é o bom do breque hoje em dia, e viro amigo do cara, só pra fingir que conheci o Moreira.
Se o cara for gente boa, ainda compro pra ele um terno branco, completo, com chapéu e tudo. Ponho-lhe no rosto um par de óculos de aros grossos e um lenço preto no bolso do paletó. Depois o posto à frente dos Arcos, e tiro aquela fotografia! Que nem a do Moreira.

Um abraço para você, minha amiga. E manda um beijo pra sua mãe.

Atenciosamente,
Da Silva.

12.24.2005

Natal (ou Ano Novo, sei lá!)

Não lembro se era Natal ou Ano Novo (e, sinceramente, a única diferença entre essas datas pra mim é a quantidade de fogos, que é maior na segunda ocasião).
Estava parado em frente a casa de um amigo, daqueles que nem é tão amigo assim, esperando ele descer. Íamos nos encontrar com o resto do pessoal na praça. Uns viriam da casa dos pais, outros dos avós, uns de missas e cerimônias religiosas, outros de botecos... todos, alguns bêbados, outros com indigestão, mas todos iriam para a praça.
Quando vi você dobrar a esquina foi que entendi porquê fiquei quase quinze minutos na calçada do cara mais obeso e mais guloso que fazia parte do meu ciclo de amizades, justamente... esperando ele acabar de comer!
Mas você não estava só. Ao seu lado, o namorado da vez (Ficou com ele quanto tempo? Uns dois anos, não?).
Passou, sorriu, cumprimentou.

- Feliz Natal – (ou "Feliz Ano Novo", eu realmente não me lembro!)
- Uhn... é... feliz... pra você, vocês... oi, Cristina! - a mãe dela sempre foi uma pessoa legal.

- Vão bora, Jorge?
- Hãn? – meu quase-não-muito-amigo-obeso tinha descido - É... ah, tá! Vamos sim.
- Jorge, levanta, cara!
- Desculpa, velho. Tava distraído.
- O Madruga me ligou agora, bebinho, falou que já tá lá, e que o pessoal quase todo já chegou também.
- Tá legal, mas por favor, vamos passar por essa rua de trás aqui. Não quero parecer que estou seguindo certas pessoas.

Não consegui me divertir naquela madrugada.

E desde então, o Natal, ou Ano Novo, que seja, ou em casa, ou bem longe daqui.

12.21.2005

Desculpe

Quanto mais eu tento lhe ajudar, mas afundo em minha desgraça.
Quanto mais tento ser útil pra você, mais me pego acreditando em coisas que não irão acontecer.
E que ajuda é essa? Pra que serve?
Não lhe acrescento nada, não lhe faço crescer, e me derrubo, cada vez mais, cada vez mais fundo, esperando seu próximo pedido de socorro, para voltar a me acabar mais um pouco.

Tudo o que eu queria é que a vida fosse simples.
Queria que Ringo tivesse morrido antes de John.
Queria não me sentir tão próximo de Syd Barrett enquanto Lanky (PartII) enche meu quarto com sons estranhos, guitarras e sininhos.

Não pedi para nada ser como é. Eu não pedi por nada.
Mas desejei. E desejo.
Desejo o distante, desejo o quase impossível.
Desejo o que você sabe, mas faz que não, eu deixo como está, só para me ver cair no momento em que você vira as costas e se vai por entre as escadarias da cidade grande.
Desejo que meus dedos dêem uma folga ao teclado do maldito computador, antes que comecem a sangrar, porque digito rápido, e rápido eu choro, e rápido enxugo lágrimas, e rápido calço um dos tênis enquanto, já não tão rápido assim, continuo a digitar com apenas uma das mãos.

Eu sonhei com você uma vez. Sonhei duas. Três talvez. (outra vez já não digito tão rápido, porque é difícil digitar apenas com a mão esquerda), e o real tomou maiores proporções.
Eu ouvi você gritar, e não lhe deixei cair. Mas ao me curvar, machuquei meus joelhos. E tem sido assim: a cada vez que lhe apoio, parte de mim sai ferida.
Não lhe culpo por nada. Você (quase) nunca me pediu. Mas não sei ser diferente. Não sei viver sem ilusões. Não sei escrever sem um bom tanto de "eu" e outro tanto de "você".

Já não sou nada, nada além de flagelos. Nada além de uma mistura de todas as canções que ouvi, de todos os textos que me fizeram chorar, filmes que me fizeram pensar... uma mistura que, ao som da versão instrumental de Golden Hair, acaba de se arrumar, prepara-se para sair, e sem a mínima vontade voltar.

Sem lugar pra ir, sem telefone ou relógio para acompanhar, e com planos de sumir. Esse sou eu.

Lembra de todas as vezes em que lhe prometi eu sempre estaria aqui para quando você precisasse?
Esqueça a parte do "sempre" e mudemos a ordem do acordo.
Enquanto eu estiver aqui, se precisar, eu irei lhe ajudar.

Só não sei mais é quanto tempo ainda hei de estar aqui. Não depois de hoje.


Som:o disco Opel, Syd Barrett.

12.19.2005

não leia isso

Senti vontade escrever algo sobre a garota obesa do meu bairro que em um dia descubriu que estava grávida e que no outro entrou em trabalho de parto.
Acontece que a história por si só já é tão surreal que eu não conseguiria passar isso pro papel!
Quem sabe outro dia.

agora leia o texto abaixo.

agora

Faz tanto tempo que recebi a notícia do noivado que, um dia desses, Karla já deve estar casada.

Seu noivo era um cara legal, até onde sei. Tomava o trem das 4 e 40 da manhã pra trabalhar sei lá onde, já havia sido militar, e essas coisas. Eles devem ter se dado bem.

Devem morar longe.

Se pensar um pouco mais, já devem até serem pais de uma criança gordinha, pequena, com um lindo sorriso, como o da mãe.

Alguma coisa tem que estar errado quando a jukebox do bar perto da sua casa toca Vento no Litoral e essa lhe parece a música mais triste que você poderia ouvir.

Um dia desses eu visitei a cidade onde fica o colégio no qual estudei. Impossível não lembrar de algumas histórias, de algumas pessoas.

Se eu cruzasse com a Jennifer em alguma daquelas ruas, será que ela ainda lembraria de mim?

Essa foi uma época engraçada, mas fugir de telefonemas, ao longo de duas semanas seguidas... definitivamente não é legal.

E sempre que falo em telefonemas, impossível não lembrar das ligações mudas em altas horas da madrugada (Algo tem que estar errado quando elas começam a deixar saudades....).

Há quantos dias o telefone não toca?

Jéssica hoje é moradora da V.M.

Outras, algumas outras, apenas outras. Sem grandes marcas, grandes histórias, nem ruins e nem boas.


Cervejas e cervejas. Quentes.
Nó na garganta.
Falta de alguém que nunca foi necessariamente presente. Não como gostaria que tivesse sido. E incrivelmente, falta da única que, em meio à tantas lembranças, significa algo.
Lágrimas invisíveis – não escorrem pelos olhos, não molham o rosto, e ninguém, nem eu e nem qualquer outra pessoa irá ver.

Meia hora. Tempo bastante:
Um;
Dois;
Três;
Quatro;
Cinco.

Uma hora dessas os comprimidos já começaram a fazer efeito.




Ouvindo:For Sure - American Football;

e isso não é literatura.

12.14.2005

[sem título]

O sol que há dias se escondia, enfim resolveu aparecer.

Antes do toque do despertador, ele, de pé (sorrisos ao abrir a janela).
Do fundo da mala, escolheu a roupa (calça e camisa). Passou.
Bebeu café amargo, comeu pão com pouca manteiga. Ainda assim, sorria.
Os olhos inchados de sono, fechavam-se. E ele sabia: seria um dia único.
Banho e detalhes menores. Saiu.

Ouviu a voz dela ao telefone. Quarenta minutos... - eles se encontrariam.
Andou um pouco mais, voltou ao local combinado, respirou fundo, e mais uma vez, telefonou.
Ela estava perto, e ele, não agüentando esperar, apressou-se em sua direção.
Quando enfim ela surgiu, tímida, ele soube exatamente o que tanto lhe atraia naquela pequena e linda criatura: a capacidade de fazê-lo se sentir humano.
O abraço foi mais curto do que imaginava que seria. No entanto, não deixou de ser sincero (e talvez até mais do que ele imaginou que seria).

Uma tarde juntos.
Nada de "Azia e David Bowie, Vallium e Bromoxom, Cristiane F. e Eduardo Spitzer...", mas todo o enigma daquele par de olhos tristes e escuros, todo o desleixo daquela barba mal feita, e toda a alegria que, nem sempre, precisa ou consegue ser demonstrada por expressões faciais.

Mas as horas passam, e as tardes acabam, e os compromissos chamam...

Na estação do metrô, um novo abraço.
Ele não sabia o que dizer (e talvez não houvesse nada que pudesse ser dito).
No metrô, restavam apenas mais alguns minutos antes de se despedirem.
Quando a porta se abriu, quando ela olhou para trás, quando seus olhos se cruzaram por um último instante, ela então compreendeu tudo o que ele não havia sido capaz de dizer...

E por mais que fantasias possam ilustrar momentos belos, nada se compara aos belos momentos da vida real.

12.04.2005

coisas estranhas

O que pode ser mais contraditório do que um universitário, aluno de uma instituição particular, cursando publicidade, usando uma camisa do Che Guevara?

É melhor ver certas coisas do que ser cego...