Caro Skip, como andam as coisas por aí?
Imagino bem o que se passa nesse exato instante... suas mãos trêmulas, seus velhos óculos sendo ajeitados para que você possa melhor entender a minha letra, que nunca foi grande coisa.
Lamento, meu amigo, que não escrevo para dizer nada em especial. Portanto, não se incomode. Pode sentar-se a mesa, apoiar o cotovelo sem dó nem piedade sobre a mesma, voltar ao seu uísque e acender novamente o seu cigarro.
Falar em bebida, você deve se lembrar que eu havia parado com esse hábito. Pois é. Disse bem:
havia.
Veja, Skip, eu, sempre tão forte, tão senhor do meu caminho, eu já não sou o mesmo.
Uma, duas, três, sete vezes ou mais, me apaixonei. E como poeta de dois séculos atrás, engoli cada sentimento, enfiando-o garganta abaixo sob fortes doses de cerveja, vinho, conhaque, aguardente. E quem me ouviu? Copos vazios, cheios, vazios novamente, cascas de amendoins, mesas de madeira nos cantos mais escuros dos bares mais estranhos, dos locais onde jamais havia estado antes, e cigarros, e cigarros, e cigarros.
Énfim, Skip, eu emagrecia, eu perdia o pouco de fora que tinha, e, mais uma vez, lá estava eu, novamente sobre efeito dessa droga desgraçada que muitos hão de elogiar.
Estou sendo expulso desse apartamento agora. Mas, antes que pense, não lhe escrevo para pedir abrigo. Escrevo para dizer que, talvez seja essa a última vez que você receberá notícias minhas.
Você e suas mãos calejadas, sua falta de perspectiva seus não-sonhos bem vívidos, que sempre deram tão certo, e eu... eu e meus sonhos esquecidos, trilhas sonoras sem volume, planos que hoje embrulham minha pequena mudança.
À você, Skip, não desejo a felicidade, pelo simples fato de que sempre lutei por ela, e hoje sobrou-me a ruína. À você, desejo o mesmo que poderia desejar à todos os mais jovens: que as cortinas não se abram, os sentimentos não se revelem e que a vida passe, sem nunca tentar mostrar para cada um qual o real significado da palavra viver, da palavra sentir.
Adeus.