Café
- Ei, acorda! Se você não se apressar vai acabar perdendo a hora outra vez.
Eu já estou de pé, já vesti uma camisa - mais decente que essa de dormir - e uma bermuda qualquer, já lavei um rosto e escovei os dentes.
Tento acordá-la com um leve toque no ombro. Ela sorri, ainda de olhos fechados, resmunga baixinho e se espreguiça, com movimentos tão sutis que acabam lhe atribuindo um ar ainda mais infantil do que ela naturalmente já parece ter.
Quase todos os dias é a mesma coisa. Quase todos os dias, com os primeiros raios de sol, eu estou de pé, ao lado da cama, calado, olhando para ela, que dorme, e me perguntando se isso tudo é mesmo real. Quase todos os dias eu quase não acredito.
A cafeteira dá o sinal: está pronto. Eu sei que preciso parar, ou ao menos reduzir um pouco esse vício, mas não hoje. E lá vou eu pra cozinha.
Quando volto ao quarto, lá está, sentada à beira da cama, cotovelos sobre os joelhos, rosto apoiado nas mãos, olhos para os chinelos, sem muita vontade calçá-los e ir logo começar o dia. Eu paro na porta e fico calado. Ela me vê e sorri. Ela me vê, sorri, e indireita o corpo.
- O que?
- O que... o que?
- Que você tá fazendo?
- Ah! Nada. Só olhando a sonâmbula mais bonita do mundo. Ela deixa escapar uma risada sutil, algo como um "ha ha ha" que consegue não soar irônico.
- Bobo!
...
- Vai tomar banho, ou você se atrasa pra aula outra vez!
- Nossa! É mesmo!
Ela toma banho, eu tomo café novamente. Ela toma café, eu tomo banho. Ela prepara nossas roupas, eu pego seu material. Ela se arruma, eu fico olhando.
Ao lado da porta da sala, um beijo no rosto, meus olhos brilham, seu sorriso faz todo seu rosto todo brilhar.
- Bom trabalho!
- Bom estudo. Sabe, todos os dias eu me pergunto se isso é mesmo verdade...
- Não precisa dizer, eu também.
- Eu te amo. E anda logo!
- Eu também! E to atrasada!
E amanhã, tudo outra vez. E agora, mais um café.
[Março de 2007]
----
Som: Placebo, Black Eyes.
Eu já estou de pé, já vesti uma camisa - mais decente que essa de dormir - e uma bermuda qualquer, já lavei um rosto e escovei os dentes.
Tento acordá-la com um leve toque no ombro. Ela sorri, ainda de olhos fechados, resmunga baixinho e se espreguiça, com movimentos tão sutis que acabam lhe atribuindo um ar ainda mais infantil do que ela naturalmente já parece ter.
Quase todos os dias é a mesma coisa. Quase todos os dias, com os primeiros raios de sol, eu estou de pé, ao lado da cama, calado, olhando para ela, que dorme, e me perguntando se isso tudo é mesmo real. Quase todos os dias eu quase não acredito.
A cafeteira dá o sinal: está pronto. Eu sei que preciso parar, ou ao menos reduzir um pouco esse vício, mas não hoje. E lá vou eu pra cozinha.
Quando volto ao quarto, lá está, sentada à beira da cama, cotovelos sobre os joelhos, rosto apoiado nas mãos, olhos para os chinelos, sem muita vontade calçá-los e ir logo começar o dia. Eu paro na porta e fico calado. Ela me vê e sorri. Ela me vê, sorri, e indireita o corpo.
- O que?
- O que... o que?
- Que você tá fazendo?
- Ah! Nada. Só olhando a sonâmbula mais bonita do mundo. Ela deixa escapar uma risada sutil, algo como um "ha ha ha" que consegue não soar irônico.
- Bobo!
...
- Vai tomar banho, ou você se atrasa pra aula outra vez!
- Nossa! É mesmo!
Ela toma banho, eu tomo café novamente. Ela toma café, eu tomo banho. Ela prepara nossas roupas, eu pego seu material. Ela se arruma, eu fico olhando.
Ao lado da porta da sala, um beijo no rosto, meus olhos brilham, seu sorriso faz todo seu rosto todo brilhar.
- Bom trabalho!
- Bom estudo. Sabe, todos os dias eu me pergunto se isso é mesmo verdade...
- Não precisa dizer, eu também.
- Eu te amo. E anda logo!
- Eu também! E to atrasada!
E amanhã, tudo outra vez. E agora, mais um café.
[Março de 2007]
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Som: Placebo, Black Eyes.